Do biomimetismo à realidade operacional - O status do "Wake Energy Retrieval"

Por Comandante Bassani - ATPL/B-727/DC-10/B-767 - Ex-Inspetor de Acidentes Aéreos SIA PT - www.personalflyer.com.br/ - captbassani@gmail.com - Dez/2025

Imagem IA

Para nós, pilotos, a esteira de turbulência (wake turbulence) sempre foi sinônimo de perigo e separação mínima obrigatória. No entanto, o projeto fello'fly da Airbus, agora evoluído para o programa GEESE (SESAR JU), está reescrevendo essa regra ao transformar a energia desperdiçada em eficiência pura, inspirando-se no voo de formação dos gansos selvagens.

1. O início: a prova do conceito foi lançada em 2019 - 2020, o objetivo inicial era provar a física. Em 2021, a Airbus realizou com sucesso o primeiro voo transatlântico de "Wake Energy Retrieval" (WER) com duas aeronaves de teste A350.

• A técnica: a aeronave "seguidora" posiciona-se na corrente ascendente suave (smooth updraft) criada pela esteira da aeronave líder, a cerca de 1,5 a 2 milhas náuticas de distância.

• O resultado: uma redução comprovada de mais de 5% no consumo de combustível e emissões de CO2, sem comprometer o conforto dos passageiros.

  
  

2. O Meio: o desafio da integração ATM (projeto GEESE - Gain Environmental Efficiency by Saving Energy) após provada a aerodinâmica, o desafio mudou para a operação: como coordenar dois voos comerciais distintos para se encontrarem no meio do oceano com precisão de segundos?

Sob a égide do projeto GEESE da SESAR 3 JU, a Airbus uniu-se a operadoras como Air France, Delta, French bee e Virgin Atlantic, além de  Air Navigation Service Providers (ANSPs - DSNA, NATS, Eurocontrol).

O foco deixou de ser apenas "voar na ala" para ser "gerenciar o encontro".

3. A posição atual: validação operacional (Dezembro de 2025)

Neste mês de dezembro de 2025, o consórcio anunciou a conclusão de uma fase crítica de testes reais no Atlântico Norte.

• O que foi testado: não o voo em formação em si (a física já está validada), mas sim o processo de "encontro (rendezvous)".

• A tecnologia: o uso de novas ferramentas de assistência ao pareamento (Pairing Assistance Tools) para despachantes e pilotos.

• Para os pilotos: a validação focou nos procedimentos de cockpit para ajustar trajetórias e garantir que as aeronaves cheguem ao ponto de encontro no tempo exato, mantendo a separação vertical convencional até o início do procedimento.

Estamos saindo da fase experimental para a industrialização do conceito. Para a comunidade de pilotos, isso sinaliza uma mudança futura no perfil de voo de longo curso: a operação deixará de ser solitária para se tornar colaborativa. O "Wake Energy Retrieval" prova que a próxima grande fronteira de eficiência não virá apenas de novos motores, mas de uma gestão de tráfego aéreo (ATM) dinâmica e cooperativa.

Bons voos!

Comandante Bassani

Fontes pesquisadas

1. Airbus: Fello'fly and Geese Project Overview & Press Release (Dec 2025)​

2. SESAR Joint Undertaking: GEESE Project Portal & Validations​​

3. Eurocontrol & Partners: Operational trials context (DSNA, NATS, Airlines)​

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