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Acidente da Jeju Air - Erro dos pilotos e controvérsias na investigação

  • Foto do escritor: Comandante Bassani
    Comandante Bassani
  • 25 de jul.
  • 5 min de leitura

Por Comandante Bassani - ATPL/B-727/DC-10/B-767 - Ex-Inspetor de Acidentes Aéreos SIA PT - www.personalflyer.com.br/ - captbassani@gmail.com - Jul 2025


Imagem Youtube
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Em 29 de dezembro de 2024, o voo 2216 da Jeju Air, operado por um Boeing 737-800, sofreu um trágico acidente ao tentar pousar no Aeroporto Internacional de Muan, na Coreia do Sul, resultando na morte de 179 das 181 pessoas a bordo. Este foi o pior desastre aéreo em solo sul-coreano. Relatórios preliminares da Aviation and Railway Accident Investigation Board (ARAIB) sugerem que os pilotos cometeram um erro crítico ao desligar o motor esquerdo, que estava funcionando normalmente, em vez do motor direito, danificado por uma colisão com aves (bird strike). Este artigo analisa detalhadamente o comportamento dos pilotos, com base em fontes oficiais, e aborda as controvérsias levantadas pelas famílias das vítimas e pelo sindicato dos pilotos da Jeju Air, que questionam a ênfase no erro humano.


Contexto do acidente


O voo 2216 da Jeju Air partiu de Bangkok, Tailândia, com destino a Muan, Coreia do Sul. Durante a aproximação para o pouso, a aeronave sofreu uma colisão com aves, identificadas como patos da espécie Baikal, que danificou ambos os motores do Boeing 737-800. O motor direito sofreu danos severos e pegou fogo, enquanto o motor esquerdo apresentava danos menores e permanecia operacional. Após o impacto, os pilotos emitiram um alerta de Mayday e tentaram uma arremetida (go-around). Na segunda tentativa de pouso, a aeronave realizou um pouso de barriga, pois o trem de pouso não foi acionado. O avião ultrapassou a pista, colidiu com uma base de concreto que abrigava equipamentos de navegação e explodiu parcialmente, resultando em um incêndio devastador. Apenas duas comissárias de bordo, localizadas na parte traseira da aeronave, sobreviveram.


Comportamento dos pilotos


O relatório interino da ARAIB, apresentado às famílias das vítimas em 19 de julho de 2025, destacou o erro dos pilotos como um fator central no acidente. As evidências, incluindo gravações do cockpit voice recorder (CVR), dados do gravador de dados de voo (FDR) e a análise física dos destroços, indicam que os pilotos desligaram o motor errado, agravando a emergência.


Ações específicas dos pilotos


  • Instrução do PIC - As gravações da cabine revelam que o PIC instruiu o copiloto a "desligar o motor direito", que estava com alarme de fogo ativo devido à colisão com as aves.

  • Erro no desligamento - Contrariamente à instrução, o switch de corte de combustível do motor esquerdo foi acionado, desativando o motor que ainda funcionava normalmente.

  • Uso do extintor de incêndio - Os pilotos ativaram o extintor de fogo do motor esquerdo, o que o desabilitou permanentemente, eliminando qualquer possibilidade de reativação.

  • Falha no trem de pouso - O trem de pouso não foi acionado, resultando em um pouso de barriga. O corte do motor esquerdo, pode ter impedido o funcionamento do sistema hidráulico necessário para baixar o trem de pouso.

Evidências de confusão na cabine


As gravações do CVR mostram que o PIC instruiu cortar o motor direito, mas o motor esquerdo foi cortado por engano, sugerindo confusão. Isso pode ter sido influenciado pela proximidade dos switches e o estresse da situação.


Consequências do erro


O desligamento do motor esquerdo resultou na perda de potência elétrica e hidráulica, já que o Integrated Drive Generator (IDG), que fornece energia aos sistemas críticos da aeronave, foi desativado. Isso comprometeu a capacidade dos pilotos de controlar a situação e ocasionou o pouso de barriga, que culminou na colisão com uma base de concreto. A análise dos motores, realizada na França em março de 2025 pela CFM International, confirmou que o motor esquerdo não apresentava falhas mecânicas antes do corte, reforçando a conclusão de que o erro humano foi um fator determinante.

Aspecto

Detalhes

Data do Acidente

29 de dezembro de 2024

Local

Aeroporto Internacional de Muan, Coreia do Sul

Aeronave

Boeing 737-800

Fatalidades

179 de 181 a bordo

Causa Preliminar

Colisão com aves seguida de erro dos pilotos ao desligar o motor errado

Ação dos Pilotos

Cortaram o motor esquerdo (funcional) em vez do direito (danificado); ativaram extintor no motor errado; não acionaram o trem de pouso

Status da Investigação

Em andamento, relatório final esperado até junho de 2026

 

Investigação oficial


A investigação está sendo conduzida pela ARAIB, com apoio da National Transportation Safety Board (NTSB) dos EUA, da Federal Aviation Administration (FAA), da Boeing e da CFM International. O relatório preliminar, divulgado em 7 de janeiro de 2025, confirmou a colisão com aves, com DNA de Baikal teals encontrado em ambos os motores. O relatório interino de 19 de julho de 2025, apresentado às famílias das vítimas, apontou o erro dos pilotos como um fator significativo, mas não foi tornado público devido a protestos.


Controvérsias


  • Reação das famílias - Lideradas por Kim Yu-jin, as famílias das vítimas rejeitaram o relatório interino, argumentando que ele culpava os pilotos prematuramente. Elas exigiram a divulgação completa dos dados do FDR e CVR, além de uma análise mais detalhada sobre a extensão dos danos nos motores e a quantidade de aves envolvidas. A indignação levou ao cancelamento de uma coletiva de imprensa planejada.

  • Críticas do sindicato dos pilotos - Embora não tenha sido encontrada a frase exata "Por que você desligou?" nas fontes públicas, as gravações do CVR mostram que o capitão instruiu cortar o motor direito, mas o motor esquerdo foi cortado por engano, sugerindo confusão. Isso pode ter sido influenciado pela proximidade dos interruptores e o estresse da situação.

  • O sindicato dos pilotos da Jeju Air acusou a ARAIB de "enganar o público" ao sugerir que o motor esquerdo estava totalmente funcional, já que vestígios de aves foram encontrados em ambos os motores. Eles questionaram a falta de evidências científicas de que o avião poderia ter pousado com segurança apenas com o motor esquerdo e criticaram a investigação por focar nos pilotos, ignorando fatores como o aterro de concreto.


  • Outros fatores em análise:


    • Infraestrutura do aeroporto - A base de concreto, que abrigava o sistema de localização do ILS (localizer), foi apontado como um fator que intensificou o impacto. Especialistas sugerem que sua remoção poderia ter reduzido a gravidade do acidente.

    • Colisões com aves - O Aeroporto de Muan tem a maior taxa de colisões com aves entre os 14 aeroportos regionais da Coreia do Sul (0,09%). Apenas uma pessoa estava designada para espantar aves no dia do acidente, apesar de regulamentações exigirem pelo menos quatro.

    • Treinamento e procedimentos - A investigação está revisando o treinamento de emergência da Jeju Air e a comunicação com os controladores de tráfego aéreo, incluindo alertas sobre riscos de colisão com aves.


Implicações e próximos passos


O acidente expôs vulnerabilidades na aviação sul-coreana, incluindo a gestão de emergências, a infraestrutura aeroportuária e a prevenção de colisões com aves. O governo sul-coreano anunciou medidas como a instalação de câmeras de detecção de aves e radares de imagem térmica em todos os aeroportos a partir de 2026, além da remoção de aterros de concreto em sete aeroportos. A Jeju Air enfrenta um processo criminal movido pelas famílias contra o CEO Kim E-bae por suposta negligência profissional.

A ARAIB planeja publicar o relatório final até junho de 2026, conforme as diretrizes da ICAO. Até lá, a investigação continua a explorar todos os fatores contribuintes, incluindo possíveis falhas organizacionais e de design da aeronave.


Conclusão


O acidente do voo 2216 da Jeju Air destaca a complexidade dos desastres aéreos, onde múltiplos fatores frequentemente se combinam. O erro dos pilotos ao desligar o motor errado foi um elemento crítico, mas a confusão na cabine e as condições desafiadoras sugerem que o estresse e o design da cabine podem ter desempenhado um papel. As críticas das famílias e do sindicato dos pilotos reforçam a necessidade de uma investigação transparente que considere todos os aspectos, desde a infraestrutura do aeroporto até os procedimentos de emergência. Enquanto o relatório final não é divulgado, o acidente serve como um lembrete da importância de treinamento robusto, comunicação clara e medidas preventivas para garantir a segurança na aviação.


Bons voos!



Fontes:

ARAIB The Korea TimesReuters The New York Times AeroTime PBS News


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1 comentário

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William Cox
há 2 dias
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Very good !!

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