O futuro das operações de piloto único - principais considerações e desafios –Parte 1
Por Comandante Bassani - ATPL/B727/DC10/B767 - Ex-Inspetor de Acidentes Aéreos SIA PT.
voopessoal@gmail.com - Nov/2024
Introdução
As Operações de Tripulação Reduzida (RCO) e as Operações de Piloto Único (SPO) visam agilizar a equipe de cockpit, particularmente em voos de transporte comercial e de longa distância. Esses modelos prometem economia de custos significativas, mas apresentam desafios únicos na manutenção dos níveis de segurança atuais. A NASA e programas europeus como o ACROSS - Advanced Cockpit for Reduction of Stress and Workload estão pesquisando e desenvolvendo ativamente estruturas operacionais ConOps (Concept of Operations for Efficiency and Capacity in SAM Airspace) para esses paradigmas.
Contexto histórico
As equipes de cockpit evoluíram de cinco membros na década de 1950 (incluindo um engenheiro de voo, navegador e operador de rádio) para a equipe padrão de duas pessoas na atualidade. Os avanços tecnológicos em sistemas de automação e navegação permitiram essa mudança, mantendo ou aprimorando a segurança. A transição para um modelo de piloto único, no entanto, apresenta desafios mais complexos, exigindo automação avançada e sistemas de suporte baseados em solo.
Estruturas e desafios operacionais
Um modelo SPO bem-sucedido depende de três elementos-chave.
Automação avançada: além das ferramentas atuais, novos sistemas devem dar suporte a operações de rotina e de emergência. Por exemplo, os recursos de pouso automático já existem, mas precisam ser aprimorados para vários tipos de cenários totalmente automatizados e confiáveis.
Suporte de solo: um operador de solo ajudará ou assumirá o controle durante situações críticas, particularmente se o piloto ficar incapacitado. Esta configuração introduz novos modelos de Crew Resource Management (CRM) e necessita de sistemas robustos de comunicação ar-solo.
Segurança e Proteção: garantir links de comunicação seguros e de baixa latência é essencial. A tecnologia atual como Aircraft Communications Addressing and Reporting System (ACARS), ainda é vulnerável, carecendo de criptografia e autenticação. Os futuros sistemas SPO devem incorporar medidas avançadas de segurança cibernética e se beneficiar de redes de banda larga de alta velocidade emergentes como OneWeb.
O ACARS carece de recursos essenciais de segurança, tornando-o vulnerável a autorizações ATC falsificadas — um risco significativo em cenários de SPO. A transição para SPO depende muito de uma infraestrutura de comunicação segura e de alta velocidade. Novas tecnologias como FANS CPDLC (Future Air Navigation System - Controller Pilot Data Link Communications) estão implementadas.
Taxonomia de Condições Operacionais
A NASA categoriza cenários de SPO com base na condição do piloto (normal vs. incapacitado) e no status do voo (nominal vs. fora do nominal). Eles variam de operações de rotina com intervenção mínima no solo a emergências que exigem pilotagem remota. Cada cenário exige diferentes níveis de automação e envolvimento do operador de solo, complicando o design do ConOps.
Implicações Econômicas e Práticas
Embora a SPO prometa uma redução de até 50% nos custos da tripulação da cabine, investimentos em novas tecnologias e infraestrutura são necessários. A economia deve superar esses custos, tornando a viabilidade econômica um fator crítico. Além disso, a transição requer uma mudança de paradigma em como as operações de voo e o (CRM) são estruturados, integrando automação avançada com supervisão humana.
Implementar SPO apresenta um desafio significativo, mas oferece benefícios potenciais substanciais. O projeto continua a abordar obstáculos tecnológicos, operacionais e econômicos, com o objetivo final de manter ou aprimorar os padrões de segurança atuais, reduzindo os custos operacionais. À medida que a indústria avança, a integração cuidadosa da automação e do suporte humano será crucial para definir o futuro da aviação comercial de piloto único.
Fonte: Concept of Operations for RCO/SPO , Rockwell Collins, California State University Long Beach, San Jose State University Foundation, University of Iowa and NASA Ames Research Center
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