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O futuro das operações de piloto único - principais considerações e desafios -parte 3

Por Comandante Bassani - ATPL/B727/DC10/B767 - Ex-Inspetor de Acidentes Aéreos SIA PT.

voopessoal@gmail.com  - Dez/2024





Operações de tripulação reduzidas (RCO) referem-se à redução de membros da tripulação voando em operações militares ou de longo curso com mais de um piloto a bordo. Operações de piloto único (SPO) referem-se a voar uma aeronave de transporte comercial com apenas um piloto a bordo da aeronave, auxiliado por automação avançada de bordo e/ou operadores de solo fornecendo serviços de suporte de pilotagem.


Suporte ao operador de solo em operações SPO/RCO

Caso de uso normal/normal - Chegada e partida em aeroporto HUB de alta densidade. 


Neste caso de uso, um piloto tipo “Harbor Pilot” (HP- operador de sistema de aeronave em solo), desempenhará um papel fundamental na gestão das operações de voo durante a chegada e partida normal em um aeroporto de alta densidade, como Chicago O'Hare (ORD). O HP, posicionado em uma estação de controle no solo, usará ferramentas avançadas de comunicação para "se juntar" virtualmente ao piloto em comando (PIC) na cabine da aeronave, durante as fases finais de aproximação e pouso e nas decolagens e subidas. Um conceito de operações (ConOps) para qualquer paradigma descreve as características de seus vários componentes e sua integração em um espaço de design multidimensional.


Chegadas - Aproximadamente 100 NM antes do topo da descida (TOD), o HP entrará em contato com o PIC da aeronave que estará chegando (SPO). Após se apresentar, o HP revisará o status atual da aeronave por meio das ferramentas de controle em solo e então ouvirá do PIC o briefing de chegada. O HP assumirá o papel de PM (piloto monitorando), gerenciando as comunicações e entradas no CDU (Control Display Unit), enquanto o PIC controlará diretamente os comandos de voo, como MCP (Mode Control Panel), radar, etc. Juntos, eles gerenciaram a descida, aproximação, pouso e taxiamento até a completa parada no gate de estacionamento. O HP verificará então com o PIC se não é mais necessário seu suporte e retornará para outros voos chegando.


Partidas - Para partidas, o HP se juntará virtualmente ao PIC para o briefing de taxi/decolagem/emergência. O PIC e o HP revisarão o briefing de despacho, as cartas de operações do aeroporto/ táxi/ pista e o plano de voo. O HP normalmente assumirá o papel de PM, enquanto o PIC gerenciará os aspectos físicos do voo (por exemplo, inspeção externa, push-back e acionamento). Após a decolagem e uma vez que a aeronave atinja o nível de cruzeiro, o HP encerrará a comunicação.


Caso de uso normal/anômalo - Em cenários anômalos, o operador de solo desempenhará um papel vital na gestão do replanejamento de rotas ou na tomada de decisões da emergência. Dois exemplos são apresentados: um para fechamento de aeroporto devido a condições meteorológicas e o outro para um problema no sistema de combustível.


Evento meteorológico (fechamento do aeroporto) - Um GFO (Ground First Officer) entrará em contato com o PIC do SPO a 200 NM ou mais de seu destino, para informá-lo que o aeroporto de chegada está fechado devido condições meteorológicas adversas. O PIC solicitará suporte dedicado do GFO para replanejar a rota para um novo destino. A estrutura da Unidade Híbrida de Operadores em Solo é ativada, onde um GFO assumirá o controle. O GFO consultará a navegação, cartas e previsão MET para os aeroportos alternativos adequados, discutirá as opções com o PIC e ajustará o plano de voo. Após receber a liberação do ATC para a nova rota, o GFO carregará as informações no FMS (Flight Management System). O voo prosseguirá sem problemas para o novo destino, com o GFO coordenando e informando o PIC sobre todas as alterações necessárias.


Problema no sistema de combustível - Em outra situação anômala, uma luz de baixa pressão de combustível alerta o PIC sobre um problema no sistema de combustível. O PIC chama a empresa e solicita suporte dedicado. O GFO assumirá o controle, enquanto o PIC continuará diagnosticando o problema. O GFO assumirá o papel de piloto voando (PF), gerenciando todas as tarefas da cabine de comando, enquanto o PIC completará a lista de verificação da falha do sistema de combustível. Uma vez que o problema persiste, o GFO poderá decidir pousar antes do destino. Após consultar os sistemas adequados e cartas para aeroportos próximos, o GFO entrará em contato com o ATC, declarará emergência, e redirecionará o voo para o aeroporto adequado mais próximo. O voo pousará e o GFO coordenará o final da emergência com a empresa no solo e o ATC.


Caso de piloto incapacitado/sistemas normais - Este caso destaca cenários que envolvem a incapacitação do piloto enquanto os sistemas da aeronave permanecem normais, exigindo uma transição para o suporte em solo e tomada de decisões.


Incapacitação gradual - Um GFO receberá um alerta indicando que o PIC do SPO está se sentindo mal. Após monitorar os dados fisiológicos do PIC (por exemplo, frequência cardíaca e pressão arterial), o GFO observará uma deterioração gradual nas condições do piloto, percebendo que o PIC está incapacitado. O GFO assumirá o controle da aeronave, assumindo o papel de PIC. O GFO manterá a comunicação com a tripulação a bordo, que auxiliará na condução dos cuidados médicos ao piloto. O GFO consultará o sistema na busca de um destino adequado e continuará o voo, garantindo que a aeronave pouse em segurança sem declarar uma emergência.


Incapacitação súbita - No caso de uma incapacitação súbita (por exemplo, parada cardíaca), o GFO receberá um alerta indicando leituras fisiológicas anormais. Se tentativas de contatar o PIC falharem, solicitará ao comissário de bordo que confirme a situação. Após confirmar a incapacitação do PIC o GFO assumirá o comando. O GFO continuará o voo em segurança até o destino, se comunicará com o ATC e voará a aeronave até o destino ou alternado em segurança. Uma equipe médica estará a espera da aeronave após a chegada e o PIC receberá atendimento imediato.


Caso de piloto incapacitado com falha de comunicação - Situação em que um piloto está incapacitado e a comunicação com a aeronave é perdida, exigindo tanto automação quanto suporte em solo para gerenciar a situação.


Cenário Reduce Crew Oparation (RCO) com perda de comunicação - Sensores a bordo detectarão a incapacidade do PF (piloto voando) e o piloto automático da aeronave assumirá o controle total. O sistema da aeronave selecionará automaticamente o transponder para 7600 (comunicações) e em seguida, para 7700 (emergência). Com a aeronave em condição estável, o ATC priorizará seu pouso. A tripulação poderá tentar se comunicar, mas a falha do rádio impedirá o contato. A aeronave será desviada para o aeroporto mais próximo com instalações médicas e pousará com tratamento prioritário do ATC.


Cenário SPO com perda de comunicação - No cenário SPO, o GFO receberá um alerta indicando a perda de comunicação de dados com o SPO. A telemetria mostrará dados normais da aeronave, mas a comunicação com o SPO estará interrompida. A aeronave mudará a seleção do transponder automaticamente para os códigos 7600 e 7700. O GFO entrará em contato com o ATC e fornecerá detalhes da emergência. Enquanto isso, a automação a bordo assumirá o controle total do voo. Se precisar alternar, o sistema auto carregará e acionará uma nova rota no FMS e a aeronave prosseguirá com os sistemas de voo automáticos gerenciando a descida, aproximação e o pouso. O ATC fornecerá tratamento prioritário e o voo pousará no destino.


Esses casos demonstram como os operadores em solo em operações SPO/RCO poderão fornecer suporte crítico durante operações de voo tanto normais quanto anômalas. O papel fundamental dos HPs e GFOs na gestão de chegadas normais, partidas, interrupções meteorológicas, problemas nos sistemas da aeronave e cenários de incapacitação de pilotos, garantirá que os voos sejam conduzidos com segurança e eficiência, mesmo sob circunstâncias desafiadoras. Ao utilizar ferramentas avançadas de comunicação, sistemas de gerenciamento de voo e gestão de contingências automatizadas, as operações SPO/RCO oferecerão um modelo inovador para apoiar a segurança e eficiência da aviação no futuro.




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