Investigação do acidente da Air India com Boeing 787 - Atualizações e desenvolvimentos.

Por Comandante Bassani - ATPL/B-727/DC-10/B-767 - Ex-Inspetor de Acidentes Aéreos SIA PT - www.personalflyer.com.br/ - captbassani@gmail.com - Jul 2025

Imagem Adnan Abidi Reuters

No dia 12 de junho de 2025, o voo AI171 da Air India, um Boeing 787-8 Dreamliner, caiu menos de 40 segundos após a decolagem do Aeroporto Internacional de Sardar Vallabhbhai Patel, em Ahmedabad, Índia, com destino a Londres. O acidente, que matou 241 das 242 pessoas a bordo e várias no solo, é uma das piores tragédias aéreas da última década. Este artigo detalha o progresso da investigação, com ênfase nas medidas de segurança implementadas e as especulações em torno do incidente.

Contexto do acidente

O voo AI171, decolou às 13:39, horário local (08:09 GMT), pilotado pelo comandante Sumeet Sabharwal e pelo copiloto Clive Kundar. Após emitir um chamado de emergência (mayday), a aeronave perdeu altitude e colidiu com um prédio em um campus médico na área de Meghaninager, Ahmedabad, causando a morte de pelo menos 270 pessoas, incluindo passageiros e pessoas no solo. A aeronave, entregue à Air India em 2014, tinha um motor novo instalado em março de 2025 e um histórico de manutenção considerado "limpo" pelo presidente da Tata Sons, N. Chandrasekaran.

Progresso da investigação

A investigação é conduzida pelo Bureau de Investigação de Acidentes Aeronáuticos da Índia (AAIB), com apoio de especialistas da Boeing, GE (fabricante dos motores), Air India, NTSB (EUA) e AAIB (Reino Unido). Em 27 de junho de 2025, os dados dos gravadores de dados de voo (FDR) e de voz da cabine (CVR), conhecidos como Enhanced Airborne Flight Recorders (EAFRs), foram baixados com sucesso em Delhi (BBC News). Esses dispositivos contêm informações cruciais, como altitude, velocidade, configurações de controle e conversas dos pilotos, essenciais para reconstruir os últimos momentos do voo.

Áreas de foco da investigação

Os investigadores estão analisando múltiplos aspectos para determinar a causa do acidente, conforme detalhado na tabela abaixo:

Aspecto	Detalhes
Desempenho dos motores	Possíveis falhas, como impacto de pássaros, contaminação de combustível ou danos nas turbinas. O motor direito era novo (março de 2025), e o esquerdo, revisado em 2023, estava programado para manutenção em dezembro de 2025.
Configuração dos flaps	Verificação da configuração correta para a decolagem.
Trem de pouso	Análise de possíveis problemas que possam ter afetado a decolagem.
Manutenção	Revisão dos registros para identificar falhas ou erros de manutenção.
Ações da tripulação	Avaliação das decisões e ações dos pilotos nos momentos finais.
Sistema de controle	Investigação de possíveis falhas no sistema de gerenciamento de voo.

A análise dos destroços está em andamento, com cada peça sendo examinada minuciosamente. Dependendo dos dados dos gravadores, uma reconstrução completa da aeronave pode não ser necessária.

Participação da ICAO

Houve relatos iniciais sugerindo que o governo indiano havia negado a participação de um inspetor da ICAO na investigação. No entanto, fontes mais recentes confirmam que a Índia concedeu status de observador a um especialista da ICAO após deliberações internas. Essa decisão, anunciada em 28 de junho de 2025, reflete um compromisso com a transparência e a adesão aos protocolos da Convenção de Chicago, que rege as investigações de acidentes aéreos. A participação da ICAO é considerada rara, geralmente reservada para casos em zonas de conflito ou incidentes envolvendo ações militares, como os acidentes do voo MH17 (2014) e do voo ucraniano de 2020.

A inclusão de um observador da ICAO garante que a investigação siga as Melhores Práticas e Recomendações (SARPs) da organização, aumentando a credibilidade do processo.

Medidas de segurança

A Diretoria Geral de Aviação Civil da Índia (DGCA) ordenou inspeções em toda a frota de Boeing 787-8 e 787-9 da Air India, com 26 das 33 aeronaves já verificadas até o momento, sem problemas significativos relatados. A Air India reduziu temporariamente 15% de seus voos internacionais de fuselagem larga até meados de julho, devido a essas inspeções e restrições de espaço aéreo no Oriente Médio. Além disso, a companhia está oferecendo apoio financeiro às famílias das vítimas, incluindo um pagamento inicial de 2,5 milhões de rúpias (cerca de US$ 29.000) por vítima e 10 milhões de rúpias (US$116.000) adicionais anunciados pelo Tata Group.

Envolvimento de especialistas antiterrorismo

Equipes antiterrorismo foram incluídas na investigação, conforme reportado pela Reuters, levantando especulações sobre sabotagem. No entanto, nenhuma evidência concreta suporta essa teoria até o momento, e autoridades, incluindo Chandrasekaran, pediram cautela contra conclusões precipitadas.

Medidas de segurança adicionais

Após o acidente, a Diretoria Geral de Aviação Civil da Índia (DGCA) ordenou verificações de segurança adicionais na frota de Boeing 787-8 e 787-9 da Air India, incluindo inspeções de parâmetros de decolagem antes de cada voo, verificações de controle de voo em trânsito e testes de potência em duas semanas. Até o momento, 26 das 33 aeronaves foram inspecionadas, sem preocupações significativas relatadas. A frota de Boeing 777 da Air India também está passando por verificações aprimoradas.

Posição da Boeing

Embora a Boeing não tenha emitido uma declaração específica em julho de 2025, o presidente e CEO da empresa, Kelly Ortberg, afirmou em 12 de junho que a Boeing está cooperando plenamente com a AAIB, conforme os protocolos da ICAO. Especialistas da Boeing estão participando ativamente da análise dos dados dos gravadores de voo. Até o momento, não há evidências que apontem para uma falha do fabricante, e o Boeing 787 Dreamliner tinha um histórico de segurança exemplar antes do acidente.

Especulações e controvérsias

Especulações sobre sabotagem ou falhas de software, como sugerido por um advogado de aviação dos EUA (Boeing software glitch), persistem, mas carecem de evidências concretas. Aurobindo Handa, ex-diretor da AAIB, enfatizou que tais teorias são especulativas até a conclusão da análise dos dados dos gravadores. Equipes antiterrorismo foram incluídas na investigação, mas nenhuma evidência de sabotagem foi confirmada até o momento.

A investigação do acidente do voo AI171 da Air India está avançando com a análise dos dados dos gravadores de voo e a participação de especialistas internacionais, incluindo um observador da ICAO, conforme confirmado por fontes recentes. Apesar de relatos iniciais de resistência, a decisão de permitir a participação da ICAO demonstra um compromisso com a transparência. As medidas de segurança implementadas pela Air India e a cooperação internacional reforçam a busca por respostas claras, com o objetivo de prevenir futuros incidentes e oferecer justiça às vítimas.

Bons voos!

Fontes:

1. Air India: How the Boeing Dreamliner crash investigation is unfolding

2. Air India crash: India to decide on overseas analysis of flight recorders

3. Air India: India begins downloading data from recorders of crashed Dreamliner

4. Air India crash: N Chandrasekaran says one engine on plane was new

5. Air India crash: Devastating tragedy threatens carrier's ambitious turnaround

6. Boeing: What does the Air India crash mean for the plane maker?

7. Air India: Investigators find cockpit voice recorder from crashed plane

8. Indian investigators download black box data from fatal Air India crash

9. Air India crash probe focuses on engine, flaps; India orders safety checks on 787 fleet

10. India orders inspection of Boeing 787s after Air India crash

11. How are investigators looking into the Air India crash - and how long could they take?

12. Air India plane crash: Investigation underway, black boxes found

13. AAIB Update: Air India flight AI171

14. Air India crash: N Chandrasekaran makes important statement; says AI 171 Boeing 787 Dreamliner had ‘new engine’, ‘clean history’

15. Boeing 787 software glitch led to AI plane crash, claims US aviation attorney

16. Air India plane crash: Sabotage investigation latest update